sábado, 5 de junho de 2010

Adriano terá que se explicar à Roma sobre ligações com o tráfico.

Rio - Ao chegar amanhã a Roma para assinar contrato com a equipe da capital italiana, Adriano terá de descer de seu trono de Imperador e se curvar ante a presidente do clube, Rosella Sensi, para dar explicações sobre sua conturbada vida particular. Sobretudo sobre as investigações policiais que o relacionam com traficantes de drogas do Rio, como revelou.

Adriano faz o sinal de facção criminosa
Foto: Divulgação“Só vai haver uma declaração por parte da Roma depois que a presidente e o jogador conversarem. A presidente do clube deu ordens claras para que ninguém se pronuncie sobre o assunto Adriano”, resume Elena de Tura, assessora de imprensa da equipe italiana.
Suspeito de ter entregue dinheiro ao tráfico, Adriano teve que depor duas vezes em dois dias — ao Ministério Público e à 38ª DP (Brás de Pina) —, fatos que ganharam destaque na imprensa do mundo inteiro. A opção da Roma pela lei do silêncio reforçou as especulações de que o clube italiano estaria se cercando de cuidados — inclusive legais — para evitar que a contratação do Imperador venha a se tornar um problema de dimensões gigantescas.
O contrato de Adriano com a Roma prevê o que já está sendo chamado de ‘cláusula comportamental’, que daria ao clube italiano o direito de rescisão unilateral caso o atacante não se adeque às normas do clube. Organizar ou ser visto em festas que mais se assemelham a orgias seria proibido, e ele teria de cuidar religiosamente de seu peso — um problemas que não conseguiu resolver nos 14 meses que passou longe da Itália, jogando pelo Flamengo.
Para jogar pela Roma, Adriano receberá na mão 4 milhões de euros (R$ 11 milhões) e salários anuais de 3,5 milhões de euros (R$ 9,6 milhões) — o contrato será de três anos. Daniele Pradè, diretor esportivo da Roma, que negociou a transferência do jogador para a Itália, irritou-se com as perguntas sobre os riscos com a contratação do Imperador. Ele gritou ao telefone que não falaria sobre o assunto e que só a presidente poderia se manifestar pela Roma.
‘EXAGERO BRASILEIRO’
A percepção na Itália sobre o caso ainda é equivocada. Piero de Torri, repórter que cobre a Roma para a ‘Gazetta dello Sport’, acredita que as notícias sobre Adriano são supervalorizadas no Brasil. Ele lembra que, apesar das polêmicas, a popularidade do Imperador na capital italiana é altíssima e ele é aguardado com status de ídolo. “As notícias divulgadas no Brasil não criaram problemas aqui. Estão todos tranquilos em relação aos problemas de Adriano. A torcida deve recebê-lo com muito entusiasmo”, diz.
Entre seus futuros companheiros, a ansiedade também é grande. Ídolo máximo e capitão da equipe, Francesco Totti não poupa elogios. “Espero que seja oficial a sua chegada, mas posso assegurar todo o calor humano e ajuda para inseri-lo no grupo. Estou seguro de que será capaz de demonstrar toda a sua qualidade indiscutível.”
Para João Henrique Areias, consultor em gestão e marketing esportivo, se resolver dentro de campo, não há polêmica fora das quatro linhas que arranhe a imagem de um ídolo. Mas, no caso de Adriano, ele acredita que, para render dentro do gramado, o atacante terá que mostrar desempenho exemplar fora dele.
Nike avalia danos à imagem do jogador
Adriano cometeu todos os excessos possíveis capazes de arranhar a sua imagem perante os fãs e patrocinadores. Mas ainda não atingiu um limite imposto pela Nike — fornecedora de material esportivo e principal parceira do Imperador —, que admite cobrar esclarecimentos do craque em casos extremos.
“Há uma avaliação constante sobre a repercussão da imagem do jogador, mas ela é interna. Quando há um problema, de qualquer natureza, a gente avalia. Mas só cabe às duas partes discutir. O Adriano e a Nike têm uma relação antiga e pessoal. Se algum dia isso passar do limite, a gente vai ter uma conversa com o atleta”, afirma Mário Andrada e Silva, diretor de comunicação da Nike.
A fama de bad boy do Imperador e sua origem humilde só são usadas pela empresa como um estilo dentro de campo. “A Nike não tem predileção por ‘bad boys’ ou por aqueles jogadores que se superam. E sim por características técnicas. O estilo de vida da Nike existe, o ‘Just Do It’, mas a tradução literal é no sentido de ir à luta por conquistas. Não é uma coisa inconsequente. É uma coisa esportiva. De ir para cima. Não é um liberou geral”, explica Mário Andrada.
Segundo ele, a exploração da imagem dos atletas parte do desempenho do patrocinado com os produtos da marca. “A Nike não pega carona no sucesso, não empresta imagem. O relacionamento é de trabalho. Todos os atletas participam no desenvolvimento de produtos. Adriano foi o primeiro a usar aquela chuteira roxa. Ele tinha participação no desenvolvimento do produto pelas características de atleta. É um cara forte, tem uma movimentação típica, chute potente, giro rápido”, diz.

Reportagem de Diogo Dantas e Leslie Leitão

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